Desta vez quero fazer uma homenagem ao produto e ao produtor agrícola, e também mostrar o potencial que estes produtos tem para construir marcas e histórias atrativas para os consumidores. Num mercado cada vez mais complexo e disputado, onde é complicado defender o valor dos nossos produtos, um bom argumento de venta, um elemento de storytelling forte tem um valor incalculável.
A maioria dos produtos agrícolas, até agora, são considerados comodities, produtos sem grande diferenciação onde o preço é marcado quase a nível global por grandes operadores e só a oferta e a demanda determinam o preço. O agricultor tem estado durante anos a ver como o valor das suas colheitas tem mantido o preço, fundamentalmente graças a um incremento da produtividade.
O setor agrícola e o campo em geral precisam de mudar esta dinâmicas e não queremos continuar a ver aldeias que ficam vazias e cada vez menos jovens que queram dedicar-se ao cultivo de alimentos chave na nossa vida. E não só o setor, a sociedade em geral tem de fazer uma mudança em como olhamos para o campo e o valor dos nossos cultivos.
Recentemente tenho assistido a um congresso agrícola em Lisboa onde se tem falado de muitas novidades tecnológicas e biológicas para a melhora da produtividade, cuidado do solo e redução do gasto energético. As presentações estavam cheias de gráficos, dados e fotografias de campos e insetos, mas na minha cabeça de marketeer só veia histórias, valor acrescentado e diferenciação.
A quebra na biodiversidade é agora mesmo um dos grandes problemas de sustentabilidade do planeta. Um 86% das espécies em todo o mundo estão ameaçadas e 75% das variedades agrícolas têm desaparecido no século passado. Um 75% dos alimentos do mundo são gerados a partir de apenas 12 plantas e 5 espécies de animais. Dados assustadores.
Por isso, a biodiversidade é agora mesmo um dos grandes polos de desenvolvimento de conhecimento na agricultura. Se estão a analisar e estudar variedades que estavam quase extintas como solução aos problemas de cambio ambiental e a sustentabilidade. Estas sementes antigas, que eram as que naturalmente se cultivavam nos nossos campos podem ser a resposta a climas cada vez mais secos e a alimentos nutricionalmente mais completos.
Um exemplo é a maça “a porta da loja”, uma variedade portuguesa com uma história ligada aos monges Beneditinos do Mosteiro de Tibães, tem um teor antioxidante até 4 vezes superior as variedades mais comerciais como a Golden o Granny Smith, alem de ser muito saborosa e conveniente para assar.
Para um bom marketeer, todos estos elementos tem um potencial brutal em termos de comunicação de diferenciação do nosso produto frente a outras variedades. Temos uma origem portuguesa e com história onde podemos criar mistério e relato atrativo na comunicação. Imaginem já o anúncio com uns monges fazendo produtos típicos portugueses e comendo este tipo de maças. Um grande potencial emocional.
Mas depois temos também uma superioridade de produto que é o potencial antioxidante que pode ser confirmado e que a nossa concorrência não pode dizer. Dois elementos com uma grande carga emocional que nos permitem defender um valor e com isso uma margem de preço superior a outros produtos substitutivos.
E isto só na maça sem processar, mas quando a indústria utiliza esta variedade no seu produto elaborado, toda esta história e o valor diferencial também pode ser utilizado. O local é uma tendência de consumo muito relevante, e o cuidado do planeta também. Aproveitemos os grandes produtos que temos e comuniquemos bem a sua historia e bondades. Os produtos agrícolas também podem ter um bom marketing.